Eu estava no meu último ano
de faculdade e estagiava em uma multinacional. Organizar visitas escolares
dentro da empresa era uma das minhas funções, sendo responsável por todas as
etapas que envolviam a ação: do agendamento à solicitação de serviços como
locação de ônibus, apoio de equipe pedagógica, alimentação, etc. Recebia alunos
de diferentes lugares e perfis e todos saiam maravilhados com o projeto e com
aquele momento de ensino fora da sala de aula (eu mesma já havia participado
disso quando mais nova).
Determinada vez, eu dei uma
bola fora. Daquelas que sempre justificam com a frase “só podia ser o
estagiário”. Me embolei com o agendamento e tive que desmarcar a visita em cima
da hora. A diretora da escola, com razão, ficou extremamente chateada. Era um
colégio de uma área extremamente carente, que participava do programa todos os
anos, sendo esse evento o mais esperado pelos alunos.
Fiquei muito mal. Eu não
tinha noção da importância que era aquela ação para aquelas crianças. Depois de
pedidos de desculpas, consegui com a supervisora uma data extra para
atendimento e resolvi fazer algo diferenciado, já que eu havia falhado com
eles. Enfim, dentro do possível, preparei uma super programação, mais robusta
que o normal para que o momento fosse inesquecível.
E foi! Mas aí vem um detalhe
bobo que muito me marcou e que me abriu os olhos. Dentro desse perfil de
visitas, tínhamos como praxe fazer a solicitação de lanche tipo “escolar”. Tratava-se
de um kit, dentro de uma caixa personalizada com um suco, sanduíche, iogurte, fruta
e bombons. Mesmo saboroso e muito bem feito, essa era a classificação mais
simples do pedido de alimentação para eventos.
Querendo impressionar, solicitei um coffee mais elaborado e pedi uma mesa com
maior diversidade de quitutes, bolos e suco – achando claro – que ia abafar.
Eis que vem a decepção: primeiramente, as crianças ficaram muito tímidas para
se servir. Não sabiam se poderiam ou o que poderiam pegar. Houve uma sensação
de desconforto. Então as professoras os encorajaram, começaram a servir as
crianças – alguma com olhar até desconfiado. Fiquei sem entender.
A professora vendo minha
decepção, falou para eu não me preocupar pois estava tudo delicioso, mas que
possivelmente as crianças não estavam acostumadas com uma mesa tão farta. Até
que uma delas chega até a mim e diz: “tia, amei o passeio, mas eu queria mesmo
era aquela caixinha para que levar para a casa”. Rapaz, na hora eu só pensei o
quanto eu fui amadora e por muito tempo fiquei com essa história guardada por
vergonha.
Apesar de não comentar esse
fato, ele se perpetuou na minha cabeça e sempre vem à tona quando estou desenvolvendo
alguma ação. Afinal, percebi que para fazer o melhor, não tenho que me colocar
como referência e sim, o outro – o público. Parece óbvio? Deveria. Mas não é
raro nos deparar com erros como esse e alguns, rendem problemas muito maiores
do que o relatado. Acredite: isso não é coisa só de estagiário – NÃO MESMO - e por isso, precisamos sempre nos policiar
tanto nas ações da empresa, como também na vida!
** Desabafo extra: sempre brinco dizendo que o “óbvio não existe”. Muitos que leem esse relato, julgam dizendo que é um erro rude e talvez tenha sido mesmo. Reforço que a proposta dele é ir na fonte: quantas vezes nos colocamos como referência e não analisamos o outro? Partimos da premissa de que “isso todo mundo gosta” ou “essa opção é bem melhor” e esquecemos da sabedoria materna onde ninguém é “todo mundo” e da percepção da vida “melhor pra quem?”. Fica a dica!😄😄
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